domingo, 7 de junho de 2009

1078) Meditações sobre o infinito (30.8.2006)


("gyre" de W. B. Yeats)

Minha primeira noção pessoal sobre o Infinito veio com doze ou treze anos. A leitura de alguns livros de pulp fiction (principalmente O Homem Eterno de F. Richard-Bessière e O Universo Vivo de Jimmy Guieu) me chamaram a atenção para a semelhança visual e estrutural entre um átomo e um sistema solar. Uma esfera de energia no centro, em volta da qual giram velozmente alguns fragmentozinhos de matéria. Pensei de imediato: “Isto talvez signifique que o nosso Sistema Solar não passa de um átomo dentro de uma molécula de uma substância qualquer que forma um objeto material, talvez um grão de areia ou uma gota dágua, num universo infinitamente maior do que o nosso. E, ao mesmo tempo dentro de qualquer grão de areia ou gota dágua daqui, existem milhões de sistemas, etc. etc.”

Não, coleguinhas, não estou me gabando ou posando de intelectual. Qualquer adolescente que lê ficção científica se acostuma a conceituar três vezes o Infinito antes do café da manhã. Faz parte da revolução mental produzida pelo gênero, que, idealmente, começa a ser lido numa idade em que a mente tem elasticidade suficiente para comportar a vastidão desses conceitos. Porque dos quinze anos em diante a mente do indivíduo se contrai, ele passa a pensar apenas em futebol, dinheiro e mulher; e o Infinito fica desse tamanhinho.

Outro conceito que desenvolvi por conta própria foi: “O Universo é um cone, cuja ponta é a base de outro cone infinitamente menor, e cuja base é a ponta de outro cone infinitamente maior”. Muitos anos depois encontrei num livro de W. B. Yeats uma menção a um símbolo místico chamado de “gyre”, que consiste em dois cones invertidos, um dentro do outro, sendo que a base de um é a ponta do outro, e vice- versa; e à medida que uma se expande a outra se contrai, e vice- versa (a menção de Yeats está no poema “The Second Coming”). Aqui, não temos propriamente o Infinito, mas um exemplo de Ciclo fechado mas em incessante dinâmica.

Também naquela idade citada acima li um livro de Giovanni Guareschi, O Pequeno Mundo de Don Camilo, historietas sobre um vilarejo italiano e as discussões entre Don Camilo, o padre local, e o prefeito Peppone, que é comunista. O padre tem o hábito de conversar com o Jesus do altar, que lhe responde em voz alta e demonstra ser um excelente papo (creio que é o Jesus mais verossímil que encontrei até hoje na literatura). Na primeira página do livro Don Camilo pergunta: “Jesus, se eu começar a contar, 1, 2, 3, 4, 5.... chegarei um dia ao fim?” E Cristo, lá do alto da cruz, responde: “Ora, Don Camilo, é a mesma coisa de traçares um círculo no chão, começares a andar ao longo da circunferência, e quereres chegar ao fim”. Temos que distinguir entre “fim” e “limite”. O nosso Universo físico, como o círculo, é finito, mas é ilimitado. Ele não se expande indefinidamente, mas em compensação não tem um ponto específico onde você possa parar e dizer: “Acaba aqui”.

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