quinta-feira, 4 de junho de 2009

1071) Filme arrasa-quarteirão (22.8.2006)



Cinema nunca foi tão caro. É algo que vai muito além da curva da inflação. Os filmes não estão apenas mais caros do que eram antes, como tudo o mais (sorvete, alface, fósforos). O cinema subiu de patamar, criou um novo nível para si próprio. É como aquele sujeito que mora de aluguel e dirige um fusca, aí ganha na Mega-Sena, e pouco tempo depois descobre que precisa faturar 100 mil por mês para manter o nível. Assim é o cinema de hoje.

Vejam o caso de Piratas do Caribe 2. Este filme (que não vi ainda, nem vou discutir se presta ou não) teve, segundo a imprensa, o melhor fim-de-semana da estréia de todos os tempos: 135 milhões de dólares. De sexta a domingo (7 a 9 de julho) o filme arrecadou isto nas cerca de 4 mil salas em que foi exibido simultaneamente. Só para comparar outros fins-de-semana de estréia de sucessos recentes: X-Men: The Last Stand (122 milhões, em 4 mil salas), Superman Returns (52 milhões, em 4 mil salas), Os Sem-Floresta, desenho (38 milhões, em 4 mil salas), Velozes e furiosos: desafio em Tóquio (23 milhões, 3 mil salas), Carros, desenho (60 milhões, 4 mil salas). Números arredondados, claro. Mas a faixa é esta.

O monitoramento eletrônico de venda de ingressos fornece relatórios de hora em hora aos estúdios, informando a marcha da bilheteria do filme. O fim-de-semana de estréia é crucial, porque desencadeia o boca-a-boca (que continua a ser a maior arma de propaganda do cinema), e porque proporciona aquilo que todo investidor (inclusive eu) adora: retorno instantâneo de um investimento. Eu fiz 500 exemplares de um livro de poesia em 2003 e ainda não vendi tudo.

O fim-de-semana de estréia é um pesadelo. Peter Bart, editor da Variety e ex-produtor, diz: “O fim-de-semana de estréia é uma tortura. Às vezes são dez anos de trabalho para fazer um filme, e agora tudo que você pode fazer é esperar. É um estresse sem comparação”. Diz Tom Hanks: “Você vê gente vomitando na cesta de papéis”. A estratégia de estréia envolve quantas cópias serão feitas, em que regiões, estados e cidades serão exibidas, e o tipo de propaganda a ser feito – “Carros” exige um estilo de divulgação, “Velozes e furiosos” exige outro. Se você já faz uma pesquisa de mercado extremamente detalhista para mudar a embalagem de um detergente que já vende bem há décadas, o que dizer de um produto novo, caríssimo, e que está arriscando toda sua carreira entre sexta e domingo?

Fatores “extra-campo” podem afetar essas estréias: o Dia dos Pais, ou a final do Campeonato de Beisebol. Os estúdios jogam todas as suas fichas nesses três dias, e a imprensa fica atulhada de matérias, fotos, merchandising, notícias “plantadas”, com cada lançamento querendo marcar presença mais que os outros. Faz sentido. Se você investe um milhão em publicidade e arrecada cinco, ganhou quatro. Se você investe dez milhões e arrecada vinte, ganhou dez. Proporcionalmente, não foi tão bom, mas é o resultado bruto que conta.

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