quinta-feira, 16 de abril de 2009

0979) O vórtice da destruição (6.5.2006)




Numa manhã de 1980, um grupo de homens trabalhava numa plataforma de petróleo no centro de um lago, quando algo estranho começou a acontecer. Eles perfuravam o fundo do lago em busca de um lençol petrolífero, quando a rocha pareceu ceder de vez, e a plataforma onde estavam começou a balançar e inclinar-se. Vendo que algo tinha dado errado, trataram de sair dali. 

O lago, apesar de extenso, tinha apenas quatro metros de profundidade média, e a perfuração deles já tinha atingido 400 metros abaixo da superfície. Os técnicos mal tiveram tempo de chegar à margem quando viram a plataforma inteira emborcar e desaparecer... num lago que não devia ter mais que alguns metros de profundidade.

Logo um enorme redemoinho se formou no centro do lago, sugando toda a água em volta. E alguém percebeu o que tinha ocorrido. Por baixo do lago havia uma mina de sal, e por um absurdo erro de cálculo a perfuração tinha atingido o teto de uma das cavernas subterrâneas. 

Para encurtar a história: toda a água do lago começou a se escoar pela abertura, que ia se alargando à medida que o sal era dissolvido, e os túneis onde trabalhavam mais de 50 mineiros estavam sendo rapidamente alagados.

O redemoinho arrastou balsas, barcos, árvores, um estacionamento próximo à margem. Sua sucção foi tão forte que reverteu o curso de um canal com 15 km que fluía rumo ao Golfo do México. 

O acidente conhecido como “O Desastre do Lago Peigneur” ocorreu na Lousiana; não deixou vítimas fatais, embora mais de 3 bilhões de galões de água tenha “descido pelo ralo”, por uma abertura onde a água se despejava numa cachoeira de 20 metros de altura, alagando por completo a mina de sal. (Por sorte os mineiros tiveram tempo de correr para os elevadores e voltar à superfície). 

O lago passou a ser alimentado pelo canal, que trouxe água salgada do Golfo do México. Depois que a caverna se encheu, o lago de água doce com 4 metros de profundidade virou um lago de água salgada com 400 metros. A mina foi fechada, e a Texaco (que perfurava o poço) pagou cerca de 45 milhões de dólares em indenizações.

Moral da história? Não sei, caro leitor. Quando leio histórias assim (http://www.damninteresting.com/?p=6), sinto um impulso messiânico de falar mal do capitalismo, da destruição predatória do meio ambiente, da sede insaciável da indústria automobilística implorando mais e mais galões de gasolina. 

Mas não quero colorir este episódio com o spray melodramático da condenação moral. Prefiro ver algo de kafkeano nesta pequena alegoria de dois grupos de técnicos, instruídos pela ciência e amparados pela tecnologia. Uns extraem sal, outros extraem petróleo, trabalhando lado a lado, roendo as entranhas da terra como cupins sindicalizados, as mãos cheias de mapas, plantas, levantamentos topográficos, mas alheios uns aos outros. E lá em cima do morro um matuto roendo um talo de muçambê, observando tudo e pensando: “Um dia vai dar merda”. Apois não deu?





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