terça-feira, 24 de março de 2009

0912) O freio-de-mão da mente (17.2.2006)




Não sei se o leitor já passou por esta experiência. Eu passo de vez em quando, e posso garantir que é uma das sensações mais eufóricas que um ser humano pode sentir. Um êxtase, uma vertigem, um verdadeiro arrebatamento mental e emocional. Porre-de-lança perde. 

Refiro-me à sensação de profundo alívio que temos quando conseguimos por fim resolver um problema que estava enganchado há muito tempo em nosso juízo, uma daquelas complicações insuportáveis, irritantes, coisas do dia-a-dia que nos consomem a paciência e o bom-humor. 

Ficamos dias, às vezes semanas, com um impasse qualquer instalado em nossa mente. Situações exasperantes cuja solução às vezes não depende de nós, ou depende de uma decisão que ainda não estamos prontos para tomar, ou então é uma dessas escolhas-de-Sofia em que a gente precisa optar entre o prejuízo-A ou o prejuízo- B.

Quando uma situação assim se resolve, e ainda mais quando se resolve de modo satisfatório, a sensação de alívio é tão grande que nos embriaga. Dá tontura. 

Lembro de dois episódios assim. Um deles foi quando fui dispensado do serviço militar, e voltei do Quartel da Conceição até o Alto Branco sem que meus pés tocassem no chão. Vim alado, flutuando, com asinhas nos tornozelos feito o Deus Hermes, e com a sensação de que meu cérebro era um balão cheio de algum gás mais leve que o ar, querendo me alçar às amplidões do Universo. 

Outro foi quando, no Curso Clássico, com 18 anos, tive que apresentar um trabalho oral sobre “A Monocultura da Cana-de-Açúcar”, logo eu, incapaz de dizer uma frase em público! Passei uma semana no Purgatório, preparando o trabalho. No dia, sabe Deus como, fui lá na frente e falei, encorajado por alguns pares de olhos expectantes da platéia feminina, e gostei tanto da experiência que vivo a repeti-la até hoje.

Psicanálise, dianética, terapias dos mais diversos tipos sabem esta verdade intuitiva. Umas são mais científicas do que as outras, mas mesmo os charlatães mais cara-de-pau sabem o quanto a obtenção de resultados simples (e a resultante euforia que provocam no cliente) é importante para sua atividade. 

O sujeito que delega a outro a função de resolver seus próprios problemas está abrindo mão de um delicado poder. Colin Wilson, veterano explorador da mente humana, refere em muitas de suas obras esse processo pelo qual os problemas não resolvidos ficam girando perpetuamente em nosso cérebro, consumindo energia, minando forças, desgastando a matéria-prima de nossa vida. 

Para Wilson, no momento em que um desses “nós” é desatado é que nos damos conta das imensas energias que estávamos desperdiçando por causa dele. É como um sujeito que tenta dirigir seu carro, no meio do trânsito, com o freio de mão puxado. Ele consegue se deslocar, mas às custas de um enorme desgaste e desperdício de energia. No momento em que ele soltar o freio, vai perceber por que motivo tudo que parecia fácil para os outros era tão difícil para ele.






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