segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

0831) A Balada do Velho Marinheiro (15.11.2005)



Um dos melhores livros do ano, para quem gosta de poesia, é a edição de A Balada do Velho Marinheiro de Samuel Taylor Coleridge (Ateliê Editorial, São Paulo; R$ 65,00). Este poema é um dos clássicos do Romantismo em língua inglesa, e também um dos clássicos da literatura fantástica, ao descrever as aventuras de um marinheiro numa viagem ao Polo Sul, em que toda a tripulação morre, e ocorrem vários encontros com entidades sobrenaturais. A tradução é de Alípio Correia de Franca Neto, também autor de uma longa e valiosa introdução que coloca o poema no contexto da obra do autor e da literatura da época (a “Balada” foi composta entre 1797 e 1816). O volume também inclui texto e tradução de outro poema de Coleridge, o famoso fragmento do “Kublai Khan” composto por ele durante um sonho (ver “O sujeito de Porlock”, 28.2.2004), e introduzido por um curto ensaio de Harold Bloom. De quebra, as formidáveis gravuras de Gustave Doré.

No poema, um grupo de convidados chega a uma festa de casamento, e um deles é abordado por um velho marinheiro curtido pelo sol, que insiste em lhe contar o que lhe aconteceu. O convidado se detém a contragosto, mas logo fica fascinado pela narrativa do velho. Este conta que durante a viagem ao Polo um albatroz pousou sobre o seu navio, e que ele, por mera crueldade, o matou com uma seta desferida com sua besta. Como castigo, os companheiros penduram o corpo do albatroz em seu pescoço. Daí em diante, desgraças e mais desgraças se abatem sobre a tripulação, que morre de sede: “Água, água por todo lado / sem nada que beber!”

Eles cruzam com um navio fantasmagórico onde avistam dois vultos-esqueleto: a Morte e a Vida-em-Morte, que jogam nos dados a sorte da tripulação, sendo que a Vida-em-Morte ganha o marinheiro. Depois que o navio vagueia por um tempo incalculável, o marinheiro avista criaturas aquáticas de rara beleza e as abençoa; o corpo do albatroz desprende-se do seu pescoço, libertando-o. Daí em diante, os espíritos do Bem, fazem cair a chuva, matando sua sede, e reanimam temporariamente os cadáveres da tripulação. O marinheiro consegue retornar a sua terra natal, mas resta-lhe um castigo: ao encontrar uma pessoa que ele instintivamente reconhece, tem que contar-lhe o que lhe ocorreu: “Ao ver um rosto, sei na hora / que é alguém que deve ouvir a história”. Transforma-se num Penitente.

Coleridge, Thomas de Quincey, Wordsworth, Lord Byron e outros criaram o Romantismo inglês que é uma das fontes da narrativa fantástica. Este poema (descendente da “Odisséia” de Homero) é primo de textos como “Le Bateau Ivre” de Rimbaud, “Manuscrito encontrado numa garrafa” e “A Aventura de Arthur Gordon Pym” de Edgar Allan Poe, e de nosso auto tradicional da Nau Catarineta, com seus marujos sedentos e extraviados sendo seduzidos pelo demônio que, na figura do Gajeiro, promete-lhes a salvação. São os pesadelos e as fantasias das grandes civilizações marítimas dos séculos 15 a 18.

Um comentário:

roberto caldeira soares disse...

O GRUPO DE HEAVY-METAL IRON MAIDEN MUSICOU TRECHOS DESTE POEMA, O RESULTADO FICOU ÓTIMO (THE RHYME OF ANCIENT MARINER). APESAR DO IRON MAIDEN SER REJEITADO ATÉ POR MUITOS ROQUEIROS, GRAÇAS AO RÍDICULO E BESTIAL MASCOTE DA BANDA QUE APARECE EM TODAS AS CAPAS DO GRUPO,O MAIDEN É UM DOS GRUPOS MAIS "LITERATOS" DO ROCK, ABORDANDO DESDE LITERATURA ANTIGA ATÉ O "NADA" QUE CARACTERIZA BOA PARTE DA MODERNA POESIA.BRÁULIO, SEU BLOG É UM DOS MELHORES DO BRASIL, GO ON !