terça-feira, 20 de janeiro de 2009

0770) A arte de ser executivo (6.9.2005)



Às vezes eu acho que escolhi a profissão errada, e em vez de poeta eu devia ser executivo de multinacional. Me falta talvez um pouco de conhecimento técnico (noções de Economia, Administração de Empresas, etc.). Me falta traquejo, batente, janela; experiência, enfim. Tirando isso, sou tão capaz de administrar uma grande empresa como qualquer outro. Tempos atrás comprei para meu filho um joguinho ótimo chamado Zoo Tycoon, que é um jogo de gerenciamento de um jardim zoológico. Tudo muito simples: você tem uma verba inicial (para construir jaulas, escolher bichos, contratar pessoal especializado, comprar rações, etc.) e um prazo para atingir determinadas metas. Em menos de uma semana eu estava craque. Toda vez que começava a ter prejuízo, eu diminuía salários, demitia pessoal e aumentava o preço do ingresso e do hamburger. Era tiro e queda.

Ser executivo de uma grande empresa não é muito diferente disto, porque o sujeito vive numa mistura de torre-de-marfim e ilha-da-fantasia. Sempre que folheio revistas de finanças e negócios eu presto mais atenção nas fotos do que no texto. Eu sou meio telepático. Basta eu ver uma foto de um grupo de pessoas e eu sei o que elas estavam falando, e basta ver uma foto de uma pessoa sozinha para saber o que ela estava pensando. Nesse executivos das grandes empresas mundiais, não é difícil ver o que move os caras: números, gráficos, índices... E “briefings”, ou seja, breves descrições informativas: o “extrato concentrado” do que se sabe sobre uma empresa, uma pessoa, um país, um mercado, um produto. Com base nisso o sujeito bota o chip do juízo para esquentar, e toma decisões mirabolantes.

Leio na revista Wired de maio: “Quando Jeffrey Immelt assumiu o comando da General Electric em 2001, o futuro previsto para a empresa indicava desaceleração do crescimento e estreitamento das margens. Immelt cortou 15 bilhões em ativos improdutivos, aplicou 61 bilhões em aquisições, e deslanchou um recrudescer de inovações que proporcionou um crescimento de 14% em 2004”. Quem não se orgulharia de aparecer na imprensa com uma folha-corrida dessa natureza? Os executivos vivem disto, de pegar índices negativos e revertê-los. É como um técnico de futebol que pega um time na zona de rebaixamento e três meses depois o deixa brigando entre as quatro primeiras posições.

Cabe ao executivo pegar aqueles gráficos descendentes, que parecem o rastro de fumaça no ônibus espacial Challenger, e transformá-los numa linha parecida à face sul do Monte Everest. É esta a sua façanha estética, semelhante à de um Miguel Ângelo que pega um bloco de mármore e vai descascando-o até revelar um Moisés que tinha lá dentro e só ele enxergou. Existe arte no que um executivo faz. Não, não estou sendo irônico. Existe arte em tudo onde é possível substituir a adiposidade pela leveza, o atravancamento pela elegância, o inchaço burocrático pela eficiência produtiva.

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