domingo, 14 de dezembro de 2008

0666) Lendas urbanas campinenses (7.5.2005)



São esses personagens tão lendários que às vezes eu desconfio que eu mesmo os inventei. Estou brincando, claro. Suas histórias povoaram minha infância e a de muitos outros em Campina. Acreditei nas histórias sobre Engole Trave e Seu Alegria como acreditei durante muito tempo na existência de Papai Noel, e continuo acreditando ainda hoje na existência de gente como o Rei Artur ou Zumbi dos Palmares. Lendas são lendas, e repeti-las gera o oxigênio que as mantém vivas na memória de todos.

Algumas lendas são apenas um nome cercado por uma nuvem de pressentimentos e sentidos ocultos. Quando eu era pequeno, por exemplo, havia duas figuras que eram uma ameaça permanente, dois personagens ominosos cuja mera menção fazia as crianças tremerem de terror e entrarem em casa mais cedo para tomar banho e jantar. Havia “João Cabeludo”, que era um bandido, e havia “Barba Rala”, que era um tarado. A gente não sabia a diferença entre uma coisa e outra, ou pelo menos quem não o sabia era eu, na minha inocência de marcelino-pão-e-vinho. Sabíamos apenas que havia um bandido e um tarado à solta na cidade, e ai de quem saísse do raio-de-ação protetor dos olhares da mãe.

Ameaça ainda pior era a do Papa-Figo. Muitas e muitas vezes desci do Babilônia até em casa, depois da sessão das 7, olhando para todos os lados, por saber que estava cruzando o território do Papa-Figo – que não era a Rua Miguel Couto, mas a Noite. Quando cresci e me dediquei a leituras criminológicas, fiquei sabendo que a mesma lenda existia, tintim por tintim, em dezenas de cidades. O Papa-Figo é um velho rico que sofre de lepra, e a quem recomendam comer o fígado cru de uma criança. Há uma lógica monstruosa nisto; o fígado tenro da criança pode ter propriedades regenerativas, etc. E um empregado do Papa-Figo sai com um saco às costas, caçando crianças para alimentar o patrão. O corpo da criança é achado no mato, dias depois, com o fígado extraído e – este é o detalhe mais cruel – algumas notas de dinheiro enfiadas no ferimento, em pagamento pelo órgão arrancado. Já escrevi um curta-metragem (dirigido por Cláudio Barroso) inspirado no relato que Gilberto Freyre faz desta história.

Outra lenda campinense é a do Castelo da Prata (que ainda existe, segundo fui informado). O dono começou a construí-lo mas sonhou que morreria se a construção acabasse; o Castelo ficou incompleto desde então. Nos anos 1960 estava abandonado, invadido por mendigos. Eu tocava nos Sebomatos, a melhor banda de rock da Paraíba (eu, Marcelo, Bolívar e Sérgio), e lá no Castelo fizemos algumas fotos de que ainda hoje tenho cópias. É uma lenda semelhante à da Mansão Winchester, em San Jose (Califórnia), que passou décadas sendo construída. É cheia de excentricidades arquitetônicas, porque a proprietária tinha medo de terminar a casa, que tem 160 aposentos, 47 lareiras, e pode ser admirada em: http://www.winchestermysteryhouse.com/tours.html.

9 comentários:

Unknown disse...

Ouvi muito falar sobre o velho do saco,meu avô que viveu 93 anos dizia que era o Sr Belim, homem muito rico e imponente,que morava em uma mansão amarela. Quando meu avô era garoto,só saia acompanhado dos pais,pois, no período era comum encontrarem crianças sem o fígado e com muito dinheiro. Quando criança ficava imaginando aquela "Casa do arco" em Bodocongó como a mansão do Sr Belim,tinha um medo enorme,alguns anos depois fui trabalhar na Escola Técnica Redentorista e dava para vê ao longe e ficava admirando a mansão que estava em ruínas,sempre imaginado se seria a casa do velho do saco... Infelizmente ano passado foi demolido o patrimônio. Eu sinceramente não duvido do meu avô, e acredito que houveram esses fatos mesmo. Hoje estava lembrando dessa história e encontrei esse texto... Me veio boas lembranças do meu vô que partiu a 3 anos!

Unknown disse...

Belinho Figueiredo

Joelder disse...

Na verdade seu Belim era tarjado como PAPA FIGO e não o homem do saco. Inclusive está enterrado no cemitério do Monte Santo ,onde há uma foto sua e da pra perceber suas orelhas enormes e pontudas, cujo era falado na épocaa semelhança de um animal bizonho.

Carlos Silva disse...

Às terças-feiras, quando guri, eu ia com mamãe e meu irmão, para as novenas na Igreja de Bodocongó. Naquela época só existia a Escola Politécnica e a Faculdade de Economia, onde hoje é a UFCG. Sempre que passávamos em frente à Politécnica Mamãe mostrava a casa lá no alto e dizia que era a casa do Papa-Figo - seu Belin Figueiredo - e que pegava crianças para comer o fígado para curar a doença que causava o crescimento das orelhas. Eu olhava aquela casa lá longe, sombria, com medo e curiosidade pensando como seria ele? Se parecia com os monstros dos meus gibis de terror.
Nunca o vi, mas já adulto, entrei na casa para ver como seria a vida do papa-figo. Fiquei maravilhado com o casarão!

Thiago de Maria disse...

Eu morava no Monte Santo e tinha muito medo da fazenda de sr Belim, que supostamente era onde tinham aqueles Campos entre o Monte Santo e a Federal.

Anônimo disse...

Eu queria mais teorias de algumas coisas de terror que vcs saibam de campina grande

Anônimo disse...

Alguém sabe onde fica o túmulo dele?

Unknown disse...

Tb queria saber

Anônimo disse...

Cemitério do monte santo