sábado, 27 de setembro de 2008

0559) Amílcar Quintella Jr. (2.1.2005)




Ofereço um milhão de dólares a quem me conseguir informações a respeito desse autor de um dos mais curiosos poemas épicos da literatura brasileira. 

Amílcar Quintella Jr. publicou em janeiro de 1957, pela Editora Iva (São Paulo) o livro A Atlântida – Poema épico de confraternização universal, com 360 páginas e doze Cantos, dos quais o mais longo é o Canto IX (154 estrofes) e o mais curto o Canto VIII (64 estrofes). 

As estrofes são as famosas “oitavas camonianas” de que é composto Os Lusíadas, com oito versos rimando ABABABCC. O livro tem prefácio do seu editor, Elói Braga Jr., e de H. de Brito Viana.

O poema é de especial interesse para nós, paraibanos. Ele descreve a vida dos habitantes da Atlântida, a destruição de seu continente, e a sua fuga em barcos através do Oceano. Eles chegam ao litoral de uma região chamada “Beracil”, onde, num local por nome “Pará-Hibã” encontram um riacho que denominam de “Im-gá”, e em seu leito um rochedo onde decidem gravar inscrições contando sua história. 

Cedo a palavra ao Poeta (Canto XII, estrofes 20 e 21):

O rochedo que vedes sobre o rio, 
por tudo e em tudo nos será sagrado: 
assemelha fantástico navio, 
em meio às mansas águas ancorado. 
Para o porvir, ao tempo em desafio, 
há de levar, por vossas mãos lavrado, 
a mensagem da nossa trajetória, 
e a das contínuas épocas de glória.

Nele, nossos artistas mostrarão 
as três primeiras levas, esculpidas; 
depois as dez seguintes gravarão, 
pelo vosso Profeta conduzidas: 
Neste quadro rupense ficarão, 
para ser algum dia revividas; 
e o mundo saiba tudo o que fizestes, 
e que jamais na luta esmorecestes.

A teoria de Quintella sobre as inscrições na Pedra do Ingá é fascinante, mas mais fascinante é a dimensão gigantesca da obra poética em que a expressou. O poema tem momentos de vívida descrição, fartura de rimas e de imagens, e em tudo e por tudo pode ser considerado um bom poema épico. 

Quem foi Amílcar Quintella Jr.? A bibliografia que aparece no volume enumera o livro de poemas A Capela da Estrada (1933), a comédia dramática Cair das Nuvens, uma versão poética da Encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, com o título Poema do Trabalho (1952), e alguns “romances radiofônicos”. 

A Biblioteca Nacional, do Rio, possui exemplar de A Atlântida, além de uma adaptação do próprio autor em forma de “roteiro cinematográfico” (79 páginas datilografadas), que lembra mais uma peça de teatro do que um roteiro, por constar apenas de diálogos, sem indicações técnicas ou decupagem.

Descobri este livro há cerca de dez anos, quando pesquisava a história da ficção científica no Brasil, e ele continua a ser um mistério. O poema é dedicado “A Assis Chateaubriand, cuja atuação jornalística tem ligado o Brasil a mais países do que muitos tratados internacionais.” Quintella teria sido um jornalista dos Associados que pretendeu homenagear o patrão através de seu Estado natal?









3 comentários:

joão disse...

encontrei exemplar de Atlântida - autografado, morra de inveja

Braulio Tavares disse...

Guarde-o. Encarregar-me-ei de valorizá-lo. Depois rachamos.

Maicira disse...

Olá! Ele foi meu tio avô! Tenho o exemplar de A Atlântida