terça-feira, 20 de maio de 2008

0397) O projeto “Gato infinito” (27.6.2004)



A Internet tem coisas que ninguém mais duvida. Mike Stanfill, um ilustrador e designer residente em Dallas (Texas), criou o projeto “The Infinite Cat”, uma dessas simpáticas excentricidades que não poderiam existir num mundo desprovido da rede eletrônica. Mike descreve a si mesmo como um cara competente em “qualquer coisa que envolva um computador e uma imaginação ativa”. Em seu saite pessoal, ele fornece amostras de seu trabalho gráfico, e um link para o Projeto do Gato Infinito.

A fórmula do projeto, pelo que pude ver, é bem simples. Um cara mandou para Mike uma foto digital de seu gato, “Frankie”, ao lado de uma flor. Outro amigo fotografou seu próprio gato olhando essa foto de “Frankie” no monitor. Outro fêz a mesma coisa com a foto deste segundo gato, e aí começou a corrente. Cada pessoa recebe a foto do gato anterior, coloca-a em seu próprio monitor, e fotografa seu próprio gato olhando para ela. Mike define o projeto de uma maneira simples: “Gatos olhando gatos olhando gatos”. Em algumas das fotos que vi dá para ver até seis gatos olhando-se em série, cada qual menor do que o anterior, desaparecendo num infinito de caixas dentro de caixas. Pode haver fotos com maior alcance, mas confesso que não vi tudo. No dia em que escrevo estas linhas, o Projeto está no Gato 158, e não tenho tempo para conferir.

O saite fica em: http://www.infinitecat.com/ . Cada foto de um gato está numa página individual, com links que você pode clicar para ver o “Gato Anterior” e o “Próximo Gato”. Direis agora: “E pra que diabo isso tudo?” E eu responderei: não faço a menor idéia, até porque detesto gatos (ver “Gatos e cachorros”, 8.4.2004). Acho uma bobagem e uma perda de tempo, mas a minha mente racionalista e pragmática me adverte que não é bem assim. É uma atividade lúdica – algo que se faz por prazer, por diversão, e pela sensação de estar produzindo algo que tem uma dimensão, embora mínima, de interesse humano, de beleza, e de habilidade técnica. E uma criação que preencha estes três requisitos não pode nunca ser totalmente inútil.

Isso me lembra a Matemática. A Matemática é uma linguagem abstrata que vale apenas pela beleza e pela eficiência técnica dos resultados que atinge, e dos raciocínios que desenvolve. Para que vai servir um teorema, uma fórmula de solucionar um trinômio? O matemático não sabe. Mas um dia acaba servindo. A história da Física, por exemplo, está repleta de casos em que um conjunto de fórmulas matemáticas existentes há anos, e para as quais ninguém descobrira uma utilidade prática, revela-se crucial para descrever e interpretar fenômenos do mundo sub-atômico ou da formação das estrelas. O projeto de Mike Stanfill coloca lado a lado o gato (graça felina, animalidade intensa, mistério, imprevisibilidade, crueldade, beleza) e o computador (frieza tecnológica, precisão, aura futurista, poder de manipulação do Real). Podem ser o Yin e o Yang da síntese final do Universo.

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