sábado, 12 de abril de 2008

0364) Calvino e a consistência (20.5.2004)



(Ítalo Calvino)

Em 1984 Ítalo Calvino foi convidado para uma série de seis conferências numa universidade norte-americana. Chegou a preparar cinco delas, enumerando as qualidades que a literatura de hoje deveria deixar de herança para os próximos séculos, mas morreu em setembro de 1985, antes de escrever a sexta. 

As cinco primeiras (“Leveza”, “Rapidez”, “Exatidão”, “Visibilidade” e “Multiplicidade”) foram publicadas sob o título “Seis propostas para o próximo milênio”. 

A sexta, cujo tema era “Consistência”, ficou em branco. O que iria dizer Calvino, nunca saberemos; sua viúva Esther Calvino lembra apenas que ele pretendia fazer menção ao conto “Bartleby”, de Herman Melville.

Peço licença, então, para dar como exemplo de consistência literária a obra do próprio Ítalo Calvino, que a Companhia das Letras vem publicando nos últimos anos. 

Conheci-a há cerca de 15 anos, quando encontrei na biblioteca da Cultura Inglesa, no Rio, uma tradução inglesa de Cidades Invisíveis, talvez o seu livro mais famoso, no qual o viajante Marco Polo descreve para o imperador Kublai Khan as cidades surrealistas que encontrou em suas andanças. 

Depois, saíram no Brasil os 3 romances da série Nossos Antepassados: O Visconde Partido ao Meio, O Barão nas Árvores, O Cavaleiro Inexistente, três fábulas fantásticas sobre personagens que só têm existência parcial.

Um dos livros mais importantes de Calvino é Fábulas Italianas, onde ele faz um apanhado dos contos folclóricos da Itália, como se fosse um Sílvio Romero ou Câmara Cascudo, mas reelabora muitos deles, interferindo no material colhido, numa espécie de parceria com a tradição oral. 

Se um viajante numa noite de inverno é o mais vanguardista de seus romances, uma história em ziguezague e cheia de recomeços, onde ele usa o próprio leitor como pretexto para interferir na narrativa. O castelo dos destinos cruzados, por sua vez, teve seu enredo determinado por cartas do Tarot tiradas ao acaso. 

Também são notáveis suas coletâneas de ficção científica (ou “fantasia cosmológica”) As Cosmicômicas e T Zero, com pequenas fábulas sobre a criação do Universo.

O estilo de Calvino combina a erudição e o humor de Umberto Eco com o senso do absurdo e a imaginação imprevisível de Julio Cortázar. 

Existe em seus textos um veio permanente de metalinguagem, de reflexão sobre o ato de escrever, mas acima de tudo ele é um excelente contador de histórias, um inventor de ambientes fantásticos, um criador de personagens excêntricos e divertidos. 

Talvez o saite mais rico sobre sua obra seja o da Emory University, em: http://www.emory.edu/EDUCATION/mfp/cal.html, com numerosas transcrições de seus livros, ensaios críticos, informações biográficas, e links. Outro saite rico em material é “Outside the Town of Malbork”, em http://www.italo-calvino.com/ , especialmente a seção de resenhas sobre sua obra.






Um comentário:

Tânia Souza disse...

Quando li pela primeira vez um texto de Italo Calvino, tive aquela sensação de aturdimento, de perplexidade admirada, desde então, é dos meus escritores favoritos. Estou lendo seus textos sobre esse fantástico escritor e só tenho a dizer: obrigada por eles!