quarta-feira, 19 de março de 2008

0284) The Truman Show (17.2.2004)




O Show de Truman conta a história de um “reality show” tipo “Big Brother” levado às últimas consequências. Ele ocorre à revelia dos participantes (no caso, de um único participante), e é transmitido ao vivo, 24 horas por dia, contando a vida de Truman Burbank, um rapaz que pensa que vive numa cidadezinha comum dos EUA, mas que desde o nascimento está num enorme estúdio de TV, cercado por atores desde o dia em que nasceu. Aos que gostam do filme, recomendo o livro com o roteiro completo (Editora Manole, São Paulo, 1998 – http://www.manole.com.br/) de Andrew Niccol, com um prefácio onde o diretor Peter Weir fornece numerosas informações sobre a história de Truman – essas informações de “background” usadas durante a feitura do filme, mas que nunca aparecem na versão final.

O criador de Truman, Christof (interpretado por Ed Harris), era produtor de documentários, e ganhou um Oscar com um filme em que registrou por dois anos a vida de garotos de rua de Chicago. Os garotos se refugiavam num prédio abandonado, sem saber que o prédio pertencia a um tio de Christof e estava cheio de câmeras e microfones. O próprio Christof tivera sua vida registrada pelo pai desde o nascimento, em filmes 8 mm., como aliás muitos pais fazem hoje, filmando seus filhos na praia, brincando, comemorando aniversários, etc.

Daí, Christof teve a brilhante idéia: por que não pegar uma mulher com uma gravidez indesejada, adotar por antecipação a criança, e filmar toda sua vida, minuto por minuto, a partir do nascimento? A idéia foi oferecida à rede de TV fictícia OmniCam, que acabou aceitando. A vida do bebê era transmitida 24 horas por dia, e os custos eram cobertos com propagandas de comidinhas de bebê, fraldas, etc. À medida que Truman foi crescendo, foi preciso contratar mais e mais atores para compor sua “família” e para lhe servir de amiguinhos, babás, professores, etc. E aos poucos uma cidade inteira foi construída à sua volta, a cidade onde ele cresceu, sem saber que era a estrela de um programa visto no mundo inteiro, e cada gesto seu era visto, cada palavra sua era escutada, mesmo quando ele se acreditava só.

Não contarei aqui o fim do filme para não tirar a graça a quem não o viu. Melhor que o fim, contudo, é o começo, a idéia básica do filme. Programas como “Big Brother” são uma abordagem tímida, comendo-pelas-beiras, dessa idéia de mostrar a-vida-como-ela-é. O problema é que o “Big Brother” é tudo menos isso. Aquilo ali é a vida como ela não é. Os participantes não apenas sabem que estão sendo filmados: eles se preparam para aquilo, representam o tempo inteiro, são de um narcisismo insuportável, estão todos ali “investindo em sua carreira”. É menos cruel do que o que é feito a Truman; mas é menos verdadeiro. O “BB” não tem nada de “reality”. Como dizia Lobão, “é tudo pose, é tudo pose!” Um “reality show” autêntico teria que ser feito à revelia. E em tempo integral, sem cortes.

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